segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A fé é um dom de Deus

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” ( Ef 2:8 )

Introdução

Da má leitura deste verso surgiu o embate entre calvinistas e arminianistas sobre a natureza da ‘fé’ apresentada pelo apóstolo Paulo como 'dom de Deus', pois os arminianistas alegam que a fé é algo que o homem decide ter com base no livre-arbítrio e os calvinistas contrapõem dizendo que a fé é algo que soberanamente Deus dá ao homem.

Qual dos seguimentos doutrinários está com a razão? Ou será que ambos seguimentos estão equivocados?

A Fé

Na carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo nos diz que Cristo é a ‘fé’ que havia de se manifestar, pois ele faz referência à fé como sendo aquele que estava por vir e, que ao seu tempo, veio e se tornou manifesto aos homens “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar (…) Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio” ( Gl 3:23-25).

Ou seja, o apóstolo apresenta a fé, não como uma disposição interna do indivíduo, tais como: sentimento, talento, prenda, aptidão, faculdade, capacidade ou habilidade, antes a fé é apresentada como um ente personificado, como se lê a seguir: “Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti” ( 2Tm 1:5 ).

O apóstolo fez referência à fé como sendo alguém que, primeiramente habitou na avó e na mãe de Timóteo e, concomitantemente, habitava em Timóteo. Ora, o único que possui a prerrogativa de ‘habitar’ os corações dos homens e é onipresente é Deus, pois Ele mesmo disse: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos” ( Is 57:15 ).

Jesus, ao alertar os discípulos sobre o dever de guardar a sua palavra enfatizou que faria neles morada, de modo que Cristo é a fé que havia de vir, segundo o que foi anunciado pelos profetas, veio na plenitude dos tempos e, que concomitantemente passou a habitava em Lóide, Eunice e Timóteo “Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” ( Jo 14:23; Gl 3:23 -25).

Jesus, ao falar com a mulher samaritana, disse que, se ela conhecesse o dom de Deus, identificaria quem estava pedindo água do poço de Jacó ( Jo 4:10 ). Ou seja, o dom de Deus não diz de um sentimento, talento, prenda, aptidão, faculdade, capacidade, habilidade, ou uma pré-disposição ‘específica’ de acreditar em algo.

Quando lemos que ‘O justo viverá da fé’ ( Hb 2:4 ), ou que ‘o homem não viverá de pão, mas de tudo que sai da boca do Senhor viverá o homem’ ( Dt 8:3 ), o termo ‘fé’, e a frase ‘o que procede da boca do Senhor’ referem-se a Cristo, autor e consumador da fé, a ‘fé’ que havia de se manifestar, a ‘palavra de Deus’ que se fez carne e habitou entre os homens ( 1Jo 1:1 -3).

Quando se analisa o capítulo 1 da carta de Paulo aos Romanos, o apóstolo Paulo cita Habacuque 2:8 ao afirmar que o evangelho é ‘poder de Deus’ e ‘justiça de Deus’. Ele é claro ao dizer: não me envergonho do evangelho, pois é poder de Deus para salvação dos que creem e, que no evangelho é que se descobre a justiça de Deus.

No verso 1 do capítulo 1 da carta aos Romanos, o apóstolo destacou que foi chamado por Deus para ser apóstolo e separado para o evangelho, e no verso 5 nomeia o evangelho de ‘fé’, quando diz ‘obediência da fé’, ou seja, obediência do evangelho. No verso 8 o apóstolo utiliza o termo ‘fé’ para fazer referência novamente ao evangelho: em todo mundo é anunciada a vossa fé, pois o que é anunciado diz das boas novas do evangelho.

No verso 9 o apóstolo Paulo diz servir a Deus através do ‘evangelho do seu Filho’, e que desejava ver os cristãos de Roma para poder compartilhar algum ‘dom espiritual’ de modo que fossem confortados. Que dom seria este? A ‘fé’ mutua apresentada no verso 12, pois ele desejava anunciar o evangelho também em Roma (v. 15), a ‘fé’ que é salvação, o dom de Deus, a palavra que se fez carne.

Incorrerá em equivoco qualquer que ler nas Escrituras o termo ‘fé’ levando em conta o significado do termo que há nos dicionários, pois o termo fé quando empregado nas Escrituras (em muitos dos casos) deve ser analisado levando em conta a figura de linguagem utilizada.

Uma das figuras de linguagem utilizada é denominada ‘metonímia’ ou ‘transnominação’, que consiste no emprego de um termo substituindo outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles. Ex: Quando Judas diz que o cristão deve batalhar pela ‘fé’ que uma vez foi dada aos santos, o termo ‘fé’ substitui a ideia de ‘evangelho’, dada a possibilidade de associação entre os termos, tendo em vista que o evangelho é a causa da crença (fé), e a fé (crença) consequência do evangelho ( Jd 1:3 ).

Em Hebreus 12, verso 2 Cristo é a ‘fé’ que havia de se manifestar, visto que Cristo é o tema central da mensagem do evangelho e, concomitantemente, o autor e consumador da ‘fé’ (evangelho), ou seja, substituir a obra (fé) pelo autor (Cristo), pois Cristo é o autor e consumador da fé ( Hb 12:2 ), é o recurso denominado metonímia pela gramática moderna, empregado pelo apóstolo dos gentios quando redigiu a carta.

Sois salvos pela Fé

Quando se lê que ‘pela graça sois salvos’, o interprete deve considerar que a graça é termo utilizado para fazer referência ao favor imerecido e gratuito proveniente da misericórdia de Deus. Porém, é em Cristo que graça de Deus é manifesta “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” ( Jo 1:14 ); “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” ( Jo 1:17 ); “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” ( Rm 3:24 ).

Através de Cristo, que é a fé manifesta, os homens têm acesso à graça, ao favor imerecido de Deus “Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós” ( Rm 4:16 ).

Por que graça? Porque na graça fica implícita as nuances essenciais ao resgate da humanidade: Cristo como o Verbo de Deus deixou a sua glória para tornar-se homem. A graça diz do fato de Cristo sendo rico ter se feito pobre, para que pela sua pobreza os que creem tornassem ricos “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” ( 2Co 8:9 ).

Qual foi a promessa que Abraão teve? A fé que havia de se manifestar, ou seja, o Descendente prometido em quem todas as famílias da terra seriam bem-aventuradas. É graça porque é gratuito, sem qualquer obra proveniente da lei “Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” ( Rm 4:4 ); “Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra” ( Rm 11:6 ).

Para ser salvo gratuitamente por Deus basta crer em Cristo. Quando o homem crê recebe poder para ser feito filho de Deus ( Jo 1:12 ). Crer em Cristo, que é a fé manifesta é ter entrada por Ele à graça de Deus “Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual (fé) estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” ( Rm 5:2 ); “Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos” ( Rm 5:15 ).

Cristo é a palavra de Deus encarnada e tudo o que Cristo anunciou foi o que ouviu do Pai, portanto, a graça é proveniente dos lábios de Cristo, sendo Ele mediador entre Deus e os homens. Cristo é mais formoso do que os filhos dos homens, pois foi declarado Filho de Deus em poder pela ressurreição dentre os mortos “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso Deus te abençoou para sempre” ( Sl 45:2 ).

O homem é salvo por meio de Cristo, pois não há outro mediador entre Deus e os homens ( 1Tm 2:5 ). Não há outro nome pelo qual devamos ser salvos ( At 4:12 ); “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” ( Ef 2:8 ); “E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo” ( ITm 1:14 ), pois só há fé e amor em Jesus Cristo.

A Fé é diferente de confiança

O maior problema daqueles que não se apercebem que o termo evangelho muitas vezes é substituído pelos termos: fé, poder, obediência, palavra, cruz de Cristo, palavra da cruz, pregação, etc., é que não conseguem distinguir onde o texto bíblico faz referencia a ‘fé’ como dom de Deus, que é Cristo, e ‘fé’ como crer, acreditar, ter confiança.

Quando lemos: “E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra” ( Jo 4:41 ), verifica-se que a palavra de Cristo é o que produz no homem confiança, e não o contrário. Ou seja, muitos creram em Cristo, a fé que foi manifesta ( Gl 3:23), por causa da sua palavra. A palavra foi a causa da crença, pois sendo fiel e verdadeira, a palavra de Cristo contém os elementos essenciais para que se creia n’Ele.

Jesus repreendeu os discípulos que estavam no caminho de Emaús por não crerem nas escrituras: “E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” ( Lc 24:25 ).

De igual modo, quando lemos: “Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim” ( At 26:18 ), a frase: ‘pela fé em mim’ assume a ideia de confiança em Cristo, o autor e consumador da fé, pois Ele é a fé que se manifestou “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” ( Gl 3:23 ).

Quando o apóstolo Paulo disse que a ‘fé’ vem pelo ouvir, referia-se à palavra da vida (fé) que justifica, pois só a palavra de Deus dá vida aos homens. Concomitantemente, o ouvir, o atender, o acreditar, o crer só é possível pela palavra de Deus. Sem a palavra de Deus não há em quem o homem confiar para alcançar a salvação.

Os discípulos creram em Cristo quando Ele ressurgiu dentre os mortos, pois lembraram que o que Ele havia dito era conforme o que as Escrituras anunciavam “Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito” ( Jo 2:22 ).

Ou seja, a confiança, a crença que o homem exerce em Deus para a salvação só é possível por Cristo, pois Ele é a fé, de modo que a salvação é de fé (Cristo) em fé (confiança) “E é por Cristo que temos tal confiança em Deus” ( 2Co 3:4 ).

Por crer em Cristo o homem tem ousadia e acesso a Deus “No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele” ( Ef 3:12). A confiança às vezes é denominada fé, sendo que às vezes a esperança e a confiança também são designadas de fé, como se lê: “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” ( Hb 3:6 ); “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim” ( Hb 3:14 ); “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão” ( Hb 10:35 ).

É do contexto em que o termo fé está inserido que se deve extrair o verdadeiro significado da palavra. Por ex: Em Hebreus 10, verso 35, a confiança é o mesmo que fé, evangelho, pois o escritor alerta o cristão para não rejeitar a confiança, visto que ela tem por base Cristo, o ‘princípio da nossa confiança’ ( Hb 10:35 ).

O que determina o significado do termo fé são os termos utilizados como: conservar, princípio, retivermos, etc., o que demonstra que o texto faz referencia a algo imutável, a palavra de Deus, que deve ser conservada, retida e aceita.

Por Cristo, que é a nossa fé, o crente tem ousadia para se apresentar diante de Deus e confiança de que será galardoado, o que só é possível ao homem pela crença em Cristo “No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele” ( Ef 3:12). Ou seja, conserva, reter e não rejeitar a confiança é o mesmo que combater o bom combate e guardar a fé “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” ( 2Tm 4:7 ).

Cristo é a verdade, o caminho e a vida, e somente quem confia n’Ele verá a luz da vida. É a verdade que produz confiança, nunca a confiança do homem produzirá verdade. É a Fé que salva, de modo que resta ao homem confiar na promessa proposta pela fé anunciada.

O termo grego ‘pístis’ traduzido por fé é: 1) fé, crença (estado subjetivo), e: 2) algo que inspira crença, prova.

A fé como estado subjetivo é uma crença própria ao indivíduo que decorre da prova, que na análise bíblica é o evangelho; já a fé que inspira crença, diz do evangelho.

Portanto, a fé opera salvação, mas o crer à parte da fé não. O maior problema quanto à interpretação decorre da associação dos termos ‘crer’ e ter ‘fé’. No N. T. temos o termo grego ‘pistis’, mas no latim não havia um substantivo equivalente a ‘pisits’. Sem um verbo que traduzisse o substantivo grego ‘pistis’, os tradutores passaram a utilizar o verbo “credere”, ou seja “crer”, que possui um radical completamente diferente de ‘pistis’.

Por causa deste problema, nenhum dos idiomas latinos possui um verbo derivado do substantivo grego ‘fides’ (fé), e, inconvenientemente, hoje é utilizado o termo crer. Portanto, pistis (fé) é utilizado para falar da mensagem, do querigma do evangelho, e ‘crer’ (credere) é o termo utilizado para fazer referencia ao assentimento intelectual, exercício da fé (crer) na mensagem (fé).

Portanto, há muitos que creem em anjos céus, inferno, deuses, milagres, etc., porém, não tem fé, pois a fé diz de Cristo, e para recebe-lo é necessário crer que Ele é o Filho de Deus, o Filho de Davi, que foi morto e ressurgiu dentre os mortos pelo poder de Deus.

A faculdade de crer é própria ao ser humano, desde que se lhe apresente algo que inspira crença, prova. É por isso que muitos creem em milagres, estórias, deuses, etc., pois o que lhes foi apresentado tocou-lhes a disposição interna em crer em algo.

Porém, crer para salvação diz de algo específico. Só é salvo, só possui a fé redentora aquele que crê em Cristo conforme diz as escrituras. Não basta crer em milagres e em Deus. Não é crer no improvável ou no impossível. Não é lançar-se no vazio, antes é crer na palavra de Deus conforme o que está escrito ( Mt 4:7 ).

Portanto, a fé é diferente da confiança, visto que, enquanto a Fé foi manifesta e é o firme fundamento das coisas que se esperam, a prova das coisas que se não veem, a ancora firme da alma ( Hb 6:19 ; Hb 11: ), por outro lado a confiança deriva da fé, pois o homem se refugia (crê) na esperança proposta em Cristo (fé) por causa de duas coisas: o conselho e o juramento de Deus ( Hb 6:17 ). Sem a esperança proposta não há refugio, portanto, não há segurança e nem o crer.

Pela graça sois salvos

Quando o apóstolo Paulo fala que ‘pela graça sois salvos’, ele fez referência a misericórdia de Deus, que enviou o seu Filho unigênito, que se fez pobre para que o homem por meio d’Ele enriquecesse “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” ( 2Co 8:9 ).

Mas, qual o meio de salvação? A Fé que foi manifesta. Ora, se o meio de salvação é a Fé que foi manifesta na plenitude dos tempos, segue-se que não é a crença do homem que salva, antes é Cristo que salva. Se fosse o crer, a crença do homem anularia a palavra que diz: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” ( At 4:12 ).

A Fé manifesta diz do dom de Deus, que é Cristo ( Jo 4:10 ). O mediador entre Deus e os homens, aquele que tornou conhecido aos homens o que é exigido por Deus. Isto não veio do homem, mas de Deus.

Primeiro veio a Fé, de modo que, é por Cristo que o homem passa a confiar em Deus “E é por Cristo que temos tal confiança em Deus” ( 2Co 3:4 ). Ou seja, qualquer confiança em Deus que não for por intermédio do mediador, que é Cristo, é inócua. Muitos creem que Deus existe, que opera milagres, etc., porém, tal crença é inócua, pois só a crença em Cristo, o mediador, é que proporciona salvação aos perdidos.

Primeiro é dada a fé, o que torna possível ao homem crer. Primeiramente o evangelho foi anunciado a Abraão, o que proporcionou elementos para crer na promessa anunciada: em ti serão benditas todas as famílias da terra. Sem a promessa, seria impossível Abraão crer.

De igual modo, sem Cristo, é impossível ao homem exercer fé para ser salvo. Portanto, Cristo é o dom de Deus, e na essência o autor e consumador da fé, e os que creem na fé manifesta são declarados justos, como está escrito: O justo viverá da fé, ou seja, de Cristo, ou de toda palavra que sai da boca de Deus.

Como “autor e consumador” da fé, temos que Ele é a origem, a fonte, o começo, o autor. É aquele que a torna plena, perfeita.

De igual modo, Jesus é a paz e o amor de Deus: “Paz seja com os irmãos, e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível” ( Ef 6:23 -24). A paz, o amor e a fé cristã vem “de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo”, pois Cristo é a paz, o amor e a fé de Deus revelado aos homens.

Quando se lê: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele” ( Fl 1:29 ), o que foi concedido aos cristãos foi Cristo (em relação a cristo), a fé manifesta, o que permite ao homem crer n’Ele e padecer por Ele. Cristo é o dom concedido, pois o termo “concedido” é ecarisqh, do termo grego charizomai, “dar como um dom”.

[...]

O que se percebe dos posicionamentos calvinista e arminianista quanto a fé é que ambos decorrem de uma má leitura da bíblia.

Por exemplo: em Hebreus 11, verso 1, o termo ‘fé’ no verso não diz de uma atitude positiva e que envolva a vontade humana em crer, antes diz do evangelho, da promessa, da prova, que é firme e o fundamento. Por outro lado, ‘esperar’ é a atitude humana que envolve a vontade, a convicção, a certeza que é crer “ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” ( Hb 1:11 ).

Porém, ao ler o termo fé no verso, sem qualquer análise, muitos concluem precipitadamente que diz da crença do homem. Como a crença do homem poderia constituir-se o ‘firme fundamento das coisas’ e ‘prova do que não se vê’?

Por Claudio Crispim

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